A carga tributária pode levar a comparações injustas!
Por: Irineu Guarnier Filho
A carga tributária pode levar a comparações injustas! Com frequência, ouço que o vinho brasileiro é caro quando comparado com os importados – sobretudo os rótulos do Mercosul. Isto é verdade? Não é bem assim. Vamos ver por quê.
Na verdade, o que geralmente ocorre é que na maioria das vezes comparam-se vinhos brasileiros de alta qualidade com vinhos importados de baixa qualidade, que custam muito pouco em seus países de origem. Neste caso, a comparação é incorreta – e injusta.
Quando se compara vinho brasileiro de boa qualidade com vinho importado igualmente de boa qualidade, principalmente dos países do Mercosul, os preços mais ou menos se equivalem. Da mesma forma, quando comparamos os vinhos brasileiros mais simples com os vinhos de entrada argentinos e chilenos, por exemplo, a diferença é pequena.
Este é ponto. Não podemos comparar bananas com maçãs ou elefantes com girafas… Temos que comparar vinhos da mesma categoria para saber se realmente há grandes diferenças de preços. E, geralmente, não há.
Tem mais. A concorrência dos vinhos importados em relação aos brasileiros é extremamente desleal em muitos casos. Isso porque cerca de 55% do preço de uma garrafa de vinho brasileiro são impostos. Já os tributos que os vinhos do Mercosul, por exemplo, pagam em seus países de origem ficam em torno de 20 por cento. E esses vinhos entram aqui no Brasil com alíquota de importação zero ou muito próximo disso. De novo, a concorrência é desfavorável ao vinho brasileiro.
Infelizmente, em razão do alto custo de vida no Brasil, da inflação, do desemprego e dos baixos salários, o vinho acaba se tornando inacessível à grande maioria dos brasileiros que gostaria de tomar uma ou duas taças de vinho, diariamente, com as refeições. E isso vale tanto para os vinhos brasileiros quanto para os importados.
Por outro lado, o vinho é um produto extremamente complexo, que depende muito dos humores do clima e da natureza. Fazer vinho não é fácil. Quem faz, sabe. Quando se leva em conta todo o trabalho necessário para produzir uma garrafa de vinho, chega-se à conclusão de que não o vinho não é uma bebida cara. A renda do brasileiro é que é baixa.
O fato é que, apesar de todo o glamour que cerca o consumo de vinho nos grandes centros urbanos, essa bebida ainda é um produto essencialmente agrícola. O vinho nasce da terra. É moldado pelas características do solo, do clima, da fauna, da flora e pela mão do homem, que lhe dão caráter, personalidade. Como poucos alimentos, reflete, por assim, dizer o terroir de onde provém.
Poucas são as atividades agrícolas que demandam tanta mão de obra o ano inteiro como a viticultura. Quem produz uvas, nunca descansa. A videira é uma planta caprichosa. Os sarmentos, ou galhos, crescem desordenadamente, e precisam ser conduzidos com mão firme para que formem um vinhedo adequado ao manejo e à produção de cachos saudáveis.
Poda seca. Poda verde. Enxertia. Raleio. Controle de doenças e pragas. Vindima. Sempre há muito trabalho no vinhedo, em todas as estações do ano. Faina dura, executada sob frio congelante ou sol forte.
Na vinícola, ocorre a fermentação do mosto, remontagem, filtragem, estabilização, trasfegas, corte, afinamento em barricas de carvalho, engarrafamento… Por mais que se deseje, atualmente, um mínimo de intervenção humana no processo, há muito por fazer, uma vez que que o vinho não se faz sozinho. Vinho é resultado de muito trabalho humano, do preparo da terra para o plantio da videira à colocação da rolha (ou screw cap) e à rotulagem, ao final do processo.
Por isso, antes de nos queixarmos do preço dos vinhos, sejam eles brasileiros ou mesmo os importados (que atravessam oceanos para chegar às nossas taças), é preciso, antes, levar em conta todo o trabalho por trás de sua elaboração.
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