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Vinho Magazine

Vinho & azeite

O consumo moderado de vinho e azeite em conjunto, na mesma refeição, além de delicioso, potencializa seus efeitos benéficos

POR: JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO


Quem gosta de um bom vinho também gosta de comida bem elaborada e de azeite de qualidade. O azeite e o vinho enriquecem a gastronomia, não só porque emprestam aromas e sabores aos alimentos, mas também por trazer proveitos à saúde.

Um estudo recente feito na Espanha e publicado no American Journal of Clinical Nutrition evidenciou que o consumo regular e moderado de vinho e azeite, junto com as refeições, diminui em 65% o risco de que pessoas com mais de 60 anos de idade desenvolvam doenças cardiovasculares e tenham morte prematura por qualquer causa. Esse mesmo estudo mostrou que esses benefícios se multiplicam (não apenas se somam) quando o vinho e o azeite de oliva são consumidos na mesma refeição.

Conceitualmente, entenda-se o vinho como o fermentado de uvas (apenas uvas) e azeite o óleo extraído de azeitonas (apenas azeitonas) e será sempre o extra virgem nas nossas considerações. Ajuizamos ser o consumo responsável de vinho aquele do padrão da dieta do Mediterrâneo: 100-300 ml por dia, sempre junto com as refeições.

Lamentavelmente o azeite é o alimento mais fraudado do mundo e devemos ter cuidado com isso. O que define um azeite extra virgem não é apenas a acidez baixa, mas também outras características físico-químicas e organolépticas. A detecção de fraude no azeite é tecnicamente complexa e os comerciantes se aproveitam disso e da dificuldade que a maioria dos consumidores têm para reconhecer um produto idôneo.


Os vinhos e os azeites têm uma composição complexa. O que eles têm em comum é uma grande quantidade de polifenóis. É isso que os torna tão saudáveis. Os polifenóis são conhecidos pelos benefícios que trazem para a saúde. Eles, além de serem potentes antioxidantes, têm uma intensa ação antiproliferativa, pró-apoptótica, antiplaquetária e anti- -inflamatória. Isso é um júbilo para a saúde de qualquer um!

De 70 a 80% dos polifenóis dos azeites são o hidroxitirosol e outros compostos fenólicos relacionados ao tirosol. Eles também estão presentes em quantidade significativa nos vinhos. Essas substâncias agem de maneira benéfica sobre vários fatores de risco para doenças cardiovasculares. A saber: diminuem a frequência cardíaca, a pressão arterial, a oxidação do colesterol LDL (o mau!), a inflamação (processo inicial da aterosclerose), os marcadores trombóticos, a razão aterogênica das lipoproteínas e a expressão de genes relacionados a aterosclerose. Além disso aumentam o colesterol HDL (o bom!) e sua funcionalidade, e melhoram a função endotelial. Tudo isso diminui muito a incidência e a gravidade das doenças cardiocirculatórias, justamente aquelas que matam cerca da metade das pessoas com mais de 40 anos de idade.

Em 2011, a European Food Safety Authority divulgou um documento em que ressalta os benefícios de uma ingestão diária de azeite. Eles dizem que para sustentar essa alegação é necessário consumir diariamente, pelo menos, 5 mg de hidroxitirosol. Esse polifenol, no organismo, sofre ação de várias enzimas e tem como seu principal metabólito biológico o álcool homovanílico. Este mostra os seus efeitos benéficos para a saúde quando atinge uma concentração mínima de 20 mmol/L. Isso se consegue com a ingestão de 25 mL ou mais de azeite por dia, por no mínimo quatro dias.



No estudo a que nos referimos, o dr. Rafael De la Torre e seus colaboradores chegaram a dados estarrecedores. Eles constataram que os pacientes que tinham o quintil maior de concentração do álcool homovanílico, quando comparado com os de menor concentração, tiveram 9,2 anos adicionais de vida e 6,3 anos a mais livres de doenças cardiovasculares. Esses dados impressionam!

Mas Dionísio (o deus grego do vinho) e Athena (a deusa grega da sabedoria, que criou a oliveira) reservaram para nós –os mortais sedentos de vida e saúde– uma surpresa agora desvendada pelos cientistas. O consumo simultâneo e responsávelde vinho e azeite resulta num aumento sinérgico de tirosol e hidroxitirosol no organismo. Tal aumento, que em média é de 6 vezes, não se deve apenas à concentração desses polifenóis em tais alimentos, mas também à capacidade metabólica de cada indivíduo. Com isso podemos usufrui desses benefícios mesmo com uma ingestão menor de vinho e azeite.

Uma comida bem elaborada, acompanhada de um bom vinho e de um azeite de qualidade é, além de muito prazeroso, muito saudável. Desfrutemos disso!

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