Muitas vezes identificado com a uva de origem franco-basca, o país também oferece espetaculares opções em outras variedades bem adaptadas ao seu terroir
Por: Daniel Arraspide
Tannat é sem dúvida alguma, uma variedade de grande destaque na viticultura uruguaia. Existem, entretanto, atualmente, outras variedades que começam a seduzir paladares, cativando aqueles amantes do bom vinho que buscam novas experiências. Marselán e Arinarnoa são dois exemplos claros disso quando se trata de uvas tintas – ainda que não sejam as únicas – que, acompanhadas das brancas Albariño e Viognier, vêm mostrando qualidade nos últimos anos, dando razão à afirmação de que o Uruguai é muito mais do que Tannat.
Novos empreendimentos ou empresas tradicionais, que já há algum tempo decidiram aventurar-se na produção de vinhos finos, começam a mostrar um potencial que até pouco tempo estava latente no Uruguai vitivinícola. Felizmente para os consumidores que procuram novas alternativas às cepas tradicionais, estes produtores oferecem vinhos diferenciados e de qualidade, feitos em alguns casos por enólogos altamente experientes – ou por jovens inquietos que se mostram enólogos modernos em busca de inovação.
Com o objetivo claro centrado em lotes limitados de garrafas, mas com elevada qualidade, estes vinhos nascem em vinhas de parcelas muito cuidadas, com baixos rendimentos em quilos de uvas, nas quais o respeito pelo ambiente em que se encontram é uma prioridade, aproveitando do que a natureza, por si só generosa, dá a quem sabe apreciá-la.
Quinta Ecencia Marselán 2020
(Bodega Gamba, Sauce)
Bodega Gamba é um produtor que apenas recentemente começou a produzir vinhos finos, e que com este Marselán se mostra como uma promessa muito boa. De cor rubi com concentração média, e com um perfume que faz jus à tipicidade varietal, este tinto é rico em aromas de fruta e algumas especiarias. Na boca destaca-se pela sua passagem sedutora que parece acariciar o paladar, com taninos muito redondos e agradáveis. O seu lugar à mesa fica ao lado de carnes de porco, uma boa lasanha com verduras e queijos, ou carnes de ave grelhadas.
Cantera Montes De Oca Albariño 2021
(Bodega Cantera Montes De Oca, Montevidéu)
É um branco com ligeiro tom palha e reflexos prateados, extremamente límpido e muito brilhante. Seu perfume lembra frutas brancas como peras, ameixas amarelas e abacaxi, cascas de frutas cítricas e um toque muito sutil de vegetais da pradaria. Na boca mostra bom volume, suavidade média, notas minerais e salinas, resultando em muito boa complexidade e potencial gastronômico. A acidez final é prolongada, o que contribui para deixar uma longa memória, aliás muito agradável ao paladar. Delicioso para escoltar camarões empanados em panko acompanhados de creme azedo de queijo cottage e ervas aromáticas.
The Viognier Legacy 2021
(Bodega El Legado, Carmelo)
Uvas colhidas no seu ponto ideal de maturação dão origem a este vinho amarelo-esverdeado muito vivo, com aroma a flores brancas e frutos de caroço (pêssegos e ameixas amarelas), com um fundo muito sutil a ervas frescas. Na boca apresenta-se com muito boa expressão de fruta, franca e madura, mas sem excessos, com uma passagem ágil que refresca o paladar, e um final de acidez equilibrada. O seu lugar à mesa pode ser ao lado de muitos petiscos e pratos, que incluem uma pizza Margherita (molho de tomate, mussarela e manjericão) ou um filé de robalo grelhado acompanhado de um refogado de vegetais, embora seja também um vinho que se pode degustar sozinho, como uma bebida de boas-vindas.
Bresesti Small Collections Arinarnoa 2018
(Bodega Bresesti, Montevidéu)
Ao falar de uma uva vermelha que se adaptou muito bem às condições climáticas do sul do Uruguai, o nome Arinarnoa vem à tona e se destaca como uma variedade alternativa que rende vinhos com muita cor e aromas a frutas maduras que encantam. É o caso deste vinho que a família Bresesti elabora em lote limitado, e que apresenta uma cor muito escura (quase preta) com notas que lembram frutas carnudas como marmelo cozido e mirtilos, aos quais se somam sutis notas mentoladas e picantes. Na boca sente-se o volume, mas sem taninos rústicos, e com uma acidez suculenta que lhe confere um paladar prolongado. Muito para harmonizar com o típico assado de tira uruguaio.
El Quincho Q Marselán 2020
(Bodega El Quincho, Carmelo)
Quem está em Carmelo (Departamento de Colônia) no fim de semana, não pode deixar de ir almoçar ou jantar no El Quincho, o novo restaurante de campo localizado na região da Colônia Estrella, um lugar onde, além de excelentes pratos, você pode desfrutar do Marselán que a casa produz. Vermelho rubi intenso, aroma a frutos vermelhos silvestres (framboesas e amoras) com uma entrada agradável na boca, carnosidade média e taninos bem arredondados, que deliciam os paladares cansados pelo excesso de concentração. Suculento e com acidez equilibrada, é uma excelente indicação ao lado de algumas das massas caseiras que a casa serve com deliciosos molhos cremosos, ou um bom bife no ponto ideal.
Comments