O vinho é a bebida mais favorável para prevenir o infarto agudo do miocárdio, se consumido de maneira moderada e responsável
POR: JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO
Talvez muitos não saibam, mas existe Aspirina® no vinho. A Aspirina®, nome comercial do ácido acetilsalicílico, foi o primeiro medicamento sintetizado em laboratório e também o primeiro a ser comercializado em forma de tabletes. Até então os medicamentos eram recolhidos de alguma forma da natureza e apresentados em forma líquida. Hipócrates, no século 5 a.C., já fazia referência a um pó ácido existente na casca do salgueiro (chorão), capaz de aliviar dores e febres. Desde então, existem inúmeras referências na história da medicina sobre o potencial terapêutico do ácido salicílico, encontrado nessa planta. O inconveniente é que nessa forma ele é tóxico. Foram os químicos Félix Hoffmann, da Bayer, e Arthur Eincheingrun que conseguiram sintetizar em laboratório o ácido acetilsalicílico – um pó atóxico e com importantes efeitos terapêuticos.
A Aspirina® é algo tão bom que seus efeitos vão além da analgesia e controle da febre. Com isso ela passou a ser um dos medicamentos mais importantes na medicina, principalmente na fase aguda do infarto do miocárdio e na prevenção de outros eventos cardiovasculares. Isso porque ela tem a importante ação antiagregante plaquetária, ou seja: é uma barreira à formação de coágulos, que são a principal causa de infarto agudo do miocárdio (IAM). Esta moléstia é a primeira causa de morte nos países industrializados. Responde por ¼ de todas as mortes! O preocupante é que isso está aumentando, não só nos países industrializados, mas também nos que estão em desenvolvimento.
As artérias coronárias são as que irrigam, nutrem, levam oxigênio para o músculo cardíaco –o miocárdio. Quando uma ou mais delas ficam obstruídas há dano celular. Com isso, a função do coração e a vida de todos os tecidos e órgãos fica comprometida. A oclusão aguda de uma coronária ocorre geralmente porque uma placa de gordura existente na artéria rompe e sangra. A natureza, que é tão sábia, tenta estancar o sangramento formando um coágulo. Isso muitas vezes é catastrófico porque obstrui de maneira abruptaa artéria. Se for uma coronária, parte do músculo cardíaco deixa de receber sangue e infarta, necrosa, deixa de ser funcionante.
Em um litro de vinho existem aproximadamente 30 mg de ácido acetilsalicílico. Resta muito pouco em uma taça. Mas não é só porque o vinho contém Aspirina® que ele é a bebida mais favorável para prevenir e amenizar o IAM e outras doenças ateroscleróticas. Tanto o álcool como os polifenóis, que existem em abundância no vinho, exercem uma série de outros efeitos favoráveis sobre a cascata da coagulação. Cito alguns: diminuem o fibrinogênio, aumentam a atividade da antitrombina, diminuem o fator VII da coagulação, aumentam o ativador plasminogênio, aumentam a fibrinólise e diminuem o tromboxano- -A. Todos estes efeitos dificultam a formação de coágulos e são mais intensos no vinho do que em qualquer outra bebida. Isso porque o vinho é a única que contém álcool e polifenóis em quantidades significativas e relativamente seguras.
Mas não é por conter ácido acetilsalicílico que o vinho deve ser considerado remédio. Vinho é uma bebida alcoólica que, se bebido de maneira moderada e responsável por quem não tenha contraindicação ao seu consumo, é capaz de proporcionar prazer e agregar alguns benefícios para a saúde, sobretudo cardiovascular. Apenas isso.
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