Tinto da Puglia conquista os Tre Bicchieri do guia Gambero Rosso. Veja a história e as notas desse italiano!
POR DR. DANIEL PINTO
DANIPIN@UOL.COM
A Puglia está localizada no sul da itália, constituindo, no jargão popular, o calcanhar da "bota", confinando com Molise, Basilicata, Campânia, e banhada pelo mar Adriático e pelo mar Jônio. A história dessa província a liga aos mercadores fenícios que a conheceram por volta do ano 2.000 aC. A novidade desse contato foi a introdução de novas videiras e técnicas mais eficientes de cultivo, já que essa atividade já era conhecida. O contato com gregos e posteriormente com os romanos fez com que novo aporte de conhecimento e aprimoramento fosse acrescentado, o que contribuiu para que se propagasse ainda mais a fama de qualidade desse vinho, cantada em prosa por Plínio o Velho, e, em versos pelo poeta Marziale. Assim foram citados os vinhos de Taranto e de Brindisi, e mais além, os vinhedos de Locorotondo e Martina Franca.
Após a queda do Império Romano e os sucessivos séculos de crise em toda a península da Itália, a atividade não sofreu grande comprometimento quanto ao desenvolvimento, mantendo a motivação e até alcançando algum relevo por ocasião do governo de Federico II di Svevia, em 1194, que nutria grande atração pela vitivinicultura.
Em pleno período medieval, o ritmo continuou em crescimento, alimentado pela proximidade com a Grécia e o interesse destes, facilitado pelo acesso conferido pelo Mar Adriático. Esse panorama é mantido nos séculos seguintes, e ganha impulso especial em fins do século 19, quando a praga da “phylloxera” se abate sobre a França, levando os franceses a procurar a Puglia como uma das fontes de fornecimento de matéria prima. A produção, que era de 100.000 hl passa em curto espaço de tempo para 300.000 hl.
Esse crescimento conhece seu primeiro grande revés quando a praga atinge o sul da Itália, por volta de 1919. O baque foi muito forte, e a recuperação, lenta e dolorida, mas com a compensação do retorno ao crescimento. A região ainda produz um grande volume de vinho corrente comercializado a granel. Porém essa tendência começa a ser trocada pela filosofia do trabalho voltado para a qualidade, como atestam excelentes exemplares disponíveis no mercado.
O perfil geográfico da Puglia a identifica como a menos montanhosa da península itálica, com apenas 1,5% desse relevo, restando 45,3% de colinas e 53,2% de planícies. De norte a sul sucedem-se quatro territórios conhecidos por: Gargano, Tavoliere, Murge e Salento, aos quais se pode juntar o Dauno na divisa com Molise e Campânia, todos com solo argiloso e calcário.
SALENTO
Faixa estreita que abriga grande número de pequenas áreas com denominação própria e estendendo-se por uma centena de quilômetros, entre o Mar Adriático e o Mar Jônio. Nessa zona encontram-se os grandes vinhos da Puglia, como Brindisi, Martina Franca, Locorotondo, Salice Salentino e Primitivo de Manduria. As uvas mais cultivadas são Negroamaro, Primitivo e Malvasia Nera.
CANTINE DUE PALME
No coração do Salento, sul da Puglia, nasceu uma sociedade cooperativa vinícola em 1989. Assim, na comuna de Cellino San Marco tem início a atividade da Cantine Due Palme que, em poucos anos, alcança o patamar mais alto entre as cantinas, culminando como a Melhor Cantina da Itália em 2007 e 2009, títulos definidos na tradicional apresentação de vinhos Vinitaly. Congrega atualmente cerca de mil associados viticultores, alcançando uma produção gigantesca de seis milhões de garrafas por ano. A sede da cantina possui formidável restaurante e um majestoso auditório para congressos, audições e apresentações em geral. Incorporada recentemente por outras duas cantinas sociais (Cantina Sociale Riforma Fondiaria di Cellino San Marco e Cantina Sociale Angelini di San Pietro Vernotico) configura o maior polo produtor cooperativo da Puglia, e afinal, de todo o sul da Itália. Na presidência do empreendimento está o famoso enólogo Angelo Maci, que comanda a organização entre as províncias de Brindisi, Lecce e Taranto no centro de Salento, amparada por 2.500 hectares de vinhedo distribuídos em 90% de variedades tintas e 10% de brancas, pelo sistema de vaso, ou como gostam os italianos, “alberello”, arbusto em tradução livre. Por aí desfilam as uvas Negroamaro, Primitivo, Aleatico, Susumaniello, Fiano, Malvasia Nera, entre as mais encontradas, destacando-se também viníferas de outras regiões, como a Sangiovese, Falanghina, Montepulciano e francesas como Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Chardonnay, etc. Para amadurecimento dos vinhos são utilizadas barricas de carvalho francês de Allier e Troncais além do carvalho americano, com capacidade total de 10 mil hectolitros de vinho, estocados numa área de 4,4 mil metros quadrados. Cumpre destacar o empenho em respeitar o método de produção, excluindo inseticidas e outros derivados químicos.
SELVAROSSA RISERVA 2011 SALICE SALENTINO
Produzido a partir de uvas Negroamaro e Malvasia Tinta, alcançou os almejados “Tre Bicchieri” do Gambero Rosso e a preferência do Papa Francisco, que o elegeu como seu vinho preferido. Estagiou por 12 meses em barricas de carvalho e mais 12 meses de garrafa antes da comercialização. Alcança 14,5% de teor alcoólico.
ANÁLISE VISUAL – Típica cor rubi escura e brilhante, “chorando” lentas e abundantes lágrimas.
ANÁLISE OLFATIVA – No aroma esbanja frutas maduras e especiaria, particularmente a picante pimenta do reino. No decorrer da prova exibe intermitentemente traços de grafite e algo entre menta e alcaçuz.
ANÁLISE GUSTATIVA – Vinho de bom corpo aprumado por taninos macios, boa acidez e comprovando na boca todo leque olfativo, notadamente a fruta madura e a especiaria picante. O equilíbrio fica comprovado pela presença de acidez suficiente que com toque mineralmantem o frescor adequado. O final é longo deixando um rastro mentolado.
AVALIAÇÃO 91/100
PREÇO R$ 136,50
LA PASTINA 11 3383 7419
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