Matías Michelini e sua vinícola Passionate Wines revolucionam o mundo dos vinhos argentinos outra vez, simplesmente adotando total liberdade de métodos de elaboração
POR DR. DANIEL PINTO
DANIPIN@UOL.COM.BR
Situada mais ao sul em relação a San Juan, a região vinícola de Mendoza, na província argentina de mesmo nome, é de longe a maior produtora da América do Sul, e também a maior em extensão. Conta com aproximadamente 75% de área plantada do total da viticultura do país, em torno de 150 mil hectares. Essa região testemunhou, a partir dos anos 90, o despertar do moderno vinho argentino, impregnado de qualidade e representante de uma atividade econômica visível, crescente e pronta para ser mostrada ao mundo. Seu mais notório baluarte, o varietal Malbec, tem encantado a tantos quantos o experimentam, com sua opulência olfativa, sem perder a delicadeza gustativa. Mendoza está dividida em quatro grandes regiões: Alta ou Norte, Leste, Valle de Uco e Sul de Mendoza.
VALLE DE UCO
Seria a porção Centro de Mendoza e apresenta os rios Tunuyán e Tupungato como eixos; ocupa uma extensa área, abrangendo terras cultivadas dos departamentos de: Tunuyán, Tupungato e San Carlos. Sua altitude varia dos 800m a 1600m do nível do mar, aproximadamente. Os verões são quentes e os invernos rigorosos, apresentando uma grande amplitude térmica entre o dia e a noite, muito favorável ao desenvolvimento da planta e ao equilibrado amadurecimento das uvas, com muito boa acidez, remetendo quase sempre à necessidade de fermentação complementar maloláctica. Alguns dos vinhos argentinos mais representativos são oriundos do Valle de Uco, destacando-se aqueles a partir de Malbec, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Barbera entre as tintas e Torrontés Riojano, Chenin Blanc, Chardonnay e Sémillon entre as brancas.
GUALTALLARY
Trata-se de uma subzona de Tupungato. Nos últimos tempos tem se constituído verdadeira pedra preciosa, desafiando produtores argentinos a ali fazerem nascer verdadeiras joias, na expressão local, em referência a vinhos de altíssima categoria. Distante 70 km da cidade de Mendoza, essa área apresenta características naturais que realmente instigam o enólogo a ali produzir bons vinhos. Localizada a 1.450 m de altura, Gualtallary é um dos locais de maior altitude da região de Mendoza. Ali, o clima mostra seu extremo selvagem, com grande amplitude térmica e solo de alto teor calcário, que conseguem transferir para o vinho uma personalidade única traduzida por taninos crocantes, corpo muscular, acidez vibrante.
É uma área verdadeiramente em voga, que atraiu grande número de gente interessada na atividade relacionada com o vinho e também com o turismo, dada a beleza do lugar. Um dos empreendimentos locais, como o Tupungato Winelands, com 800 hectares, inaugurado em 2009, introduziu maior incentivo ao turismo, com campos de polo e golf com perspectiva para dois grandes hotéis de categoria, como o Auberge du Vin. A primeira bodega a ali se instalar foi a Altus, de José Luis Manzano. Daí em diante, uma série de conhecidos produtores acorreram ao local, como Jean Bourquet, Rutini, Sophenia e outros.
MATIAS MICHELINI
Enólogo de primeira grandeza com experiência em casas tão famosas como a Pulenta, Michelini sentiu tão profundamente as qualidades e potencial de Gaultallary que para ali se mudou com família e tudo, incluindo o irmão Pablo, enólogo da bodega Zorzal. Mathias elegeu uma área no coração de Gualtallary para a bodega desenhada por Bormida & Yanzon, com dois níveis subterrâneos, tanto para sala de fermentação como para a adega de repouso dos vinhos em barricas e garrafas. O objetivo é mover o vinho pelo processo natural de gravidade. Uma das características singulares é a introdução de tanques de concreto de forma ovalada. A capacidade deverá chegar a 165 mil litros, com espaço para 600 barricas e 180 mil garrafas.
No processo de elaboração, soma-se a seus vinhos próprios uma identidade definida pela utilização de técnicas diferentes das tradicionalmente utilizadas na vitivinicultura argentina, em um estilo muito pessoal e pouco intervencionista.
Vinhedos naturais, diferentes momentos de colheita, fermentações sendo feitas em caixas plásticas, em ovos de cimento ou em peles esticadas de animais; maceração carbônica, vinhos brancos macerados com as massas como tintos e muitas outras opções, associadas à liberdade de elaboração do Matias, o transformam em um pioneiro na Argentina.
Todo esse trabalho tem como resultado vinhos com estilo diferenciado e que impõem tendências na América do Sul. Isso permite a Matías levar sua experiência a diferentes projetos vitivinícolas no Chile e no Uruguai. Toda essa paixão e dedicação é o que define a sua bodega Passionate Wine.
ETERNO RETORNO 2013
Mais uma prova do talento de Matias Michelini, este tinto é uma cofermentação de 70% Malbec e 30% Petit Verdot advindos de Gualtallary e El Peral, respectivamente, com estágio de 16 meses em toneis ovais de concreto. Álcool: 14,5%.
ANÁLISE VISUAL - Cor rubi muito intensa, escura mesmo.
ANÁLISE OLFATIVA - A fruta lidera o aroma sob a batuta de frutas negras muito maduras algo em compota adornada por notas florais, toques minerais e rastros de ervas frescas fazendo prever um vinho delicado.
ANÁLISE GUSTATIVA - Todos esses atributos olfativos se potencializam na boca em meio a uma textura nervosa com taninos vibrantes aliados a uma acidez agradável embora de amplo frescor. O final é inesquecível com um misto de groselha e giz que perduram longamente.
AVALIAÇÃO 94/100
PREÇO R$ 260,00
NEVE WINES 49 9802 8884
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