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Vinho Magazine

O vinho para aquecer

Entenda como o vinho dá a sensação de aquecer nosso corpo no calor, o que o faz combinar tanto com o inverno

POR DR. JAIRO MONSON DE SOUZA FILHO

Chega o inverno, e aumenta a vontade de beber vinho. A maioria das pessoas relaciona o frio com o consumo de vinho, para aquecer. Se a ideia se consagrou é porque é verdade. Veremos como a ciência a explica.

Nós, humanos, somos animais endotérmicos, mantemos a temperatura corporal relativamente constante (pode variar no máximo 0,6º C). Isso ocorre devido, fundamentalmente, ao nosso metabolismo celular. Graças a esse extraordinário mecanismo biológico, o corpo humano despido pode ser exposto a temperaturas de -13º C até 66º C sem que praticamente se altere a temperatura interna. Diferente disso só em doenças febris ou exposições prolongadas a temperaturas extremas. Como se vê, temos mecanismos fisiológicos magníficos para manter a temperatura corporal interna estável. Se esse mecanismo não fosse tão primoroso, nós teríamos evoluído de outra forma e seríamos muito diferentes ou, quem sabe, nossa espécie não teria sobrevivido. Não teríamos a oportunidade de desfrutar das benesses de uma taça de vinho.



Além da temperatura interna, temos a temperatura superficial, que é a que costumamos medir. Essa é a temperatura da pele (fundamentalmente!) e tecidos subjacentes. Esses tecidos sofrem mais variações porque é por intermédio deles que ocorrem as trocas de temperatura do corpo com o meio ambiente. É na pele que sentimos a sensação de frio e calor.

Um dos mecanismos de que o organismo lança mão para controlar a temperatura corporal é o fluxo de sangue (que tem temperatura constante). Quanto maior este fluxo em uma região, mais quente ela será. Quando a pele entra em contato com o frio, os vasos sanguíneos se contraem, diminuindo o aporte de sangue nesta região. Ela fica pálida e fria. Isto estimula os corpúsculos de Krause, que estão na hipoderme. Eles então transmitem estímulos para o cérebro, que os interpreta como sensação de frio. Quando o nosso corpo entra em contato com o calor, os vasos sanguíneos superficiais dilatam-se, deixando a pele mais quente e corada. Isto estimula os corpúsculos de Ruffini, que também estão na hipoderme e enviam estímulos ao cérebro. Desse modo temos a sensação de calor.

O vinho tem vários mecanismos que melhoram a circulação periférica, o que atenua a sensação de frio. O álcool dilata os vasos sanguíneos da superfície corporal, dando rubor à pele e sensação de calor. Esse efeito todas as bebidas alcoólicas têm. Mas o vinho, também aqui, tem um pouco mais. Os responsáveis por este efeito adicional são os polifenóis. Estes nobres e importantes constituintes do vinho têm a propriedade de diminuir a resistência vascular, tornando mais fácil a vasodilatação. Além disso, os polifenóis aumentam a quantidade de óxido nítrico na circulação sanguínea por aumento da enzima óxido nítrico sintetase, um potente vasodilatador. Não bastasse isso, os polifenóis diminuem as moléculas de adesão ao endotélio, melhorando sua função e, por consequência, a circulação.

Tudo isso faz com que a sensação de frio fique mais amena. No entanto é preciso ter muito cuidado com a quantidade da bebida. A ingesta abusiva de álcool pode levar a muitos dissabores, inclusive hipotermia – situação clínica delicada e indesejada.

Frio pede vinho. E não é apenas porque ele é uma bebida quente, mas também porque ele tem alguns efeitos sobre o organismo que atenuam a sensação de frio. É por isso que vinho combina tanto com o inverno.

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