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Goiás tem cachaça

Vinho Magazine

Produtores goianos investem na alta qualidade na produção de cachaças artesanais e partem para a conquista de novos mercados

Por Maria Edicy Moreira


Alambique na cachaçaria Vale das Águas Quentes, em Caldas Novas, GO
Alambique na cachaçaria Vale das Águas Quentes, em Caldas Novas, GO

Goiás vem se firmando como produtor de cachaças artesanais de qualidade, adotando boas práticas e orientações técnicas de diversas entidades e instituições.

O projeto abrange desde a orientação, treinamento, checagem da qualidade de equipamentos, procedimentos e sistema de produção, até análises das bebidas, conferindo o selo Alimento Confiável àqueles produtores que atendem aos requisitos do Senai de Goiás.

Todo esse trabalho vem sendo feito sob a liderança daAgopcal, Associação Goiana de Produtores de Cachaça de Alambique, presidida por Luiz Manteiga Álvares de Campos Filho, que em 2015 fundou a entidade e assumiu sua presidência, sendo recentemente reconduzido ao cargo. “Já temos oito cachaças com o selo Alimento Confiável, mesmo com a pandemia. Para 2023 queremos atender a todos os associados que ainda não têm o selo”, afirma Luiz.

Além disso, está em andamento uma pesquisa com cachaças armazenadas e envelhecidas em madeiras do cerrado goiano. Cada produtor participante se compromete a plantar pelo menos 1 hectare de árvores do autóctones do cerrado.

Manteiga diz que, apesar dos avanços alcançados, ainda há dificuldades para produzir boas cachaças de alambique em Goiás, como o alto custo de produção, a escassez de mão de obra, as altas taxas tributárias e a falta de políticas públicas, somadas à alta taxa de clandestinidade das cachaças produzidas no Estado, que passa de avassaladores 90%.

“A falta de fiscalização abre portas para a clandestinidade e a pirataria, como o desdobramento de álcool combustível, adicionado de água, açúcar e sabor artificial, comercializado a baixíssimo custo no mercado, em embalagens plásticas reutilizadas, vendidas como ‘cachaça artesanal’. Um verdadeiro caso de saúde pública, até de polícia, de falta de respeito e proteção ao consumidor”, afirma Manteiga.

Alambiques de cobre na cachaçaria Vale das Águas Quentes, em Caldas Novas, GO
Alambiques de cobre na cachaçaria Vale das Águas Quentes, em Caldas Novas, GO

A Agopcal e seus associados produtores de cachaças de alambique de Goiás, comprometidos com a qualidade, têm boas histórias para contar. José Nacipe Braga, José Saraiva Neto e José Afonso, além de Antonio Abrão Bastos, Luiz Manteiga Álvares de Campos Filho e Celio Cintra estão entre os produtores que zelam pela qualidade da cachaça goiana e fazem sucesso com suas marcas que, além de registradas no Mapa (Ministério da Agricultura e Produção Agrícola), ganharam os selos Alimento de Qualidade e Cachaça Goiana Paixão de Alambique, atraindo cada vez mais consumidores.

“Nós produtores associados à Agopcal temos o compromisso de produzir a cachaça com maestria e, como comerciantes somos também consumidores, e gabaritados no reconhecimento da boa cachaça. A união e a amizade entre os produtores da Agopcal permitem que um oriente o outro na melhoria contínua de detalhes que possam prejudicar a cadeia produtiva da cachaça para atingirmos um nivelamento superior de nossos destilados”, afirma o presidente da entidade.

Com a soma de tudo isso surgiu o selo Cachaça de Goiás - Paixão de Alambique, que é o diferencial do destilado goiano”. O selo traduz a filosofia dos produtores de cachaça do Estado: “Fazer com amor o que será servido ao consumidor”.

A produção está espalhada por diversas partes de Goiás. Os 23 associados da Agopcal representam 19 municípios. Desde o Vale do Araguaia até o Vale do Paranaíba. Ao todo, esses produtores produziram em 2021 300 mil litros de cachaça de alambique e para 2022 a expectativa é produzir 500 mil litros.

Para chegar a essa produção (a safra ocorre de abril a outubro) alguns produtores irrigam canaviais pelo método tradicional e outros com o vinhoto, a sobra do mosto destilado da cana, rico em minerais e potássio.


Colheita de cana para a produção de cachaça na propriedade de José Afonso Maiochi, em Caldas Novas
Colheita de cana para a produção de cachaça na propriedade de José Afonso Maiochi, em Caldas Novas

JOSÉ AFONSO

CALDAS NOVAS

Com duas unidades instaladas no município de Caldas Novas (uma rural e uma na cidade) a Cachaçaria Vale das Águas Quentes, fundada por José Afonso Maiochi, se tornou um dos pontos turísticos mais visitados da cidade, famosa por suas fontes termais.

Na unidade rural é cultivada a cana de açúcar e produzidos alguns derivados como melado, rapaduras, açúcar mascavo, açúcar de fôrma e o melaço. Todos esses produtos possuem o Certificado de Produto Orgânico. Na unidade 2 (urbana), são destiladas e envelhecidas as cachaças, além do rum, aguardente de melado, aguardente de rapadura e licores diversos.

A primeira cachaça foi produzida em 1995. Atualmente a Cachaçaria Vale das Águas Quentes produz quatro rótulos: Cachaça Vale das Águas Quentes Prata, descansada por até 18 meses em dornas de Jequitibá; Vale das Águas Quentes Ouro, envelhecida por dois anos em tonéis de amburana; Vale das Águas Quentes Sênior Premium, envelhecida por quatro anos em tonéis de Carvalho e Vale das Águas Quentes Barril 12 Extra Premium envelhecida por oito anos em tonéis de carvalho francês, carvalho americano e castanheira.

Em 2021 foram produzidos 30 mil litros de cachaça e licores e para

2022 a meta é produzir a mesma quantidade. A comercialização de 90%

dos produtos é feita na unidade 2 da Cachaçaria em Caldas Novas, os

outros 10% se dividem entre revendas e e-commerce.

Segundo José Afonso, a produção das cachaças passa por um rigoroso

processo de boas práticas de fabricação, começando pela seleção

da cana de açúcar, o excelente controle da fermentação e destilação

bem criteriosa.

“Isso nos levou a conquistar para todos os nossos produtos o selo Alimento

Confi ável, uma parceria da Agopcal, Senai, Sebrae e Siaeg, entre

outros”. Além disso, as cachaças são registradas no Mapa, Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento desde 2000”, afirma Maiochi.


JOSÉ SARAIVA NETO

FORMOSO

O Alambique Caialua, instalado por José Saraiva Neto em Formoso, GO, nas terras férteis que margeiam o rio Extrema, produz as cachaças Caialua, com certifi cação orgânica. A bebida é destilada de forma artesanal em alambique de cobre desde 2009 na fazenda Ibiporanga, que integra a produção de cachaças com a pecuária.

O produtor José Afonso e esposa, da Vale das Águas Quentes.
O produtor José Afonso e esposa, da Vale das Águas Quentes.

O alambique oferece as cachaças Caialua Prata, Pinguela Prata, Caialua Extra Premium, Caialua Formosa e, em breve chegará ao mercado a Cachaça Caialua Flor do Cerrado. A Cachaça Prata descansa somente em aço inox por um ano e as envelhecidas, de 4 a 7 anos em barris de carvalho, e em breve em madeiras brasileiras.

“Nossas cachaças são todas orgânicas. A prata tem uma característica frutada, cítrica e refrescante, com um leve adocicado. As envelhecidas puxam mais para o adocicado do caramelo, um toque de amêndoas e um retrogosto de coco queimado”, explica José Saraiva Neto.

Suas cachaças são registradas no Mapa e têm o selo de Alimento Confiável. “Somos auditados e orientados para produzir um produto de excelência. Cumprimos um check list e um manual de boas práticas de fabricação mais rigoroso que o do próprio ministério”, afirma o produtor.

Os produtos são vendidos em empórios, cachaçarias, distribuidores de bebidas, bares e restaurantes em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Recife e Curitiba. Em tempos normais a produção anual varia entre 25 mil e 30 mil litros.


Alambique de José Nacipe, da JBraga
Alambique de José Nacipe, da JBraga

JOSÉ NACIPE BRAGA

SÃO JOÃO D’ALIANÇA - CHAPADA DOS VEADEIROS

Instalado na zona rural de São João d’Aliança-GO, dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a 160 km de Brasília, o Jbraga, alambique, fundado por Nacipe, produz suas cachaças na fazenda Capão da Palha desde 2009.

Ao todo são três rótulos: Fininha, branca original; Capão da Palha Premium, envelhecida por dois anos; e Capão da Palha Extra Premium, envelhecida por três anos e premiada com medalha de ouro na categoria madeiras brasileiras.

O mestre alambiqueiro José Nacipe, mineiro, ex-morador de Brasília, onde atuou como servidor público por 40 anos, produz suas cachaças de forma artesanal. “Utilizo alambique de cobre com muito critério de higiene e estrita observância das boas práticas de fabricação. Nossas cachaças são registradas no Mapa e conquistaram o selo Alimento Confiável”.


Destiladores de cobre do Alambique Cana Brava
Destiladores de cobre do Alambique Cana Brava

Ele descreve suas cachaças como suaves e levemente adocicadas, apesar de não terem adição de açúcar. Têm aroma discreto e agradável. A Capão da Palha é envelhecida em canela amarela, madeira rara da mata Atlântica, que lhe confere sabor e cor únicos.

Quem trabalha com cachaças envelhecidas tem a vantagem de não precisar produzir a bebida todos os anos. “Eu nunca comercializo cachaças com menos de dois anos de produção”. Por essa razão, Nacipe conta que em 2021 não produziu cachaças e não vai produzir em 2022 porque tem um bom estoque, em torno de 30 mil litros, e está em processo de renovação do canavial.

“Meu estoque foi produzido em 2012 e 2014, mas o envelhecimento que conta é o tempo em que passou na madeira, aí uma foi por dois anos e a outra três anos. Agora estou envelhecendo outra que em 31 de julho próximo completa cinco anos e será retirada do tonel”, afirma o produtor. Os rótulos são vendidos em Goiânia, Cuiabá, Salvador, Teresina, Belo Horizonte, Chapada dos Veadeiros entre outras localidades.

Antonio Abrão, fundador do alambique Cana Brava em Alexânia, GO.
Antonio Abrão, fundador do alambique Cana Brava em Alexânia, GO.

ANTONIO ABRÃO BASTOS

ALEXÂNIA

O Alambique Cana Brava, fundado por Antonio Abrão Bastos, no município de Alexânia-GO, produz cachaças a partir de uma cana de açúcar com origem no século 19, inicialmente cultivada nos arredores de Pires do Rio, GO. Por volta de 1830, os antepassados do produtor desbravaram o cerrado goiano, onde passaram a cultivar cana de açúcar e café. Montaram os primeiros alambiques e engenhos da região, transformando a cana de açúcar em cachaça e açúcar, derivados usados como moedas de troca.

Em 1979, o jovem Antonio ingressou no Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e após servir à nação por 30 anos decidiu em 2010, na reserva, dar continuidade ao iniciado em 1830 por seu bisavô, com a cachaça Cana do Mato”.

Segundo Bastos, a implantação do Alambique Cana Brava na região de Alexânia, GO, ocorreu em função da localização dos centros consumidores, pelo clima da região, que tem estações seca e chuvosas bem definidas, além da água pura, isenta de minerais, oferecendo um cenário ideal para a produção das cachaças Cana da Terra, em alambique de cobre.

Bastos formou-se mestre alambiqueiro e master blend para tomar as rédeas da produção de seus destilados, apresentados em oito rótulos: Cana da Terra tradicional (Branquinha); Cana da Terra Extra Premium, envelhecida por 6 anos em Carvalho Americano; Cana da Terra Premium, envelhecida por 2 anos em carvalho americano; Cana da Terra Premium, envelhecida por 2 anos em umburana; Cana da Terra Blend em três madeiras: Carvalho americano, umburana e bálsamo; além de Cowboy Ouro; Cowboy Prata e Rancharia Ouro.

Em 2021 Abrão Bastos produziu 20 mil litros de cachaça e planeja para 2022 a produção de 30 mil litros. Bastos destaca que seus destilados Cana da Terra vêm da cana fresca, produzida em seus canaviais na estação chuvosa.



Célio Cintra, da Cachaça Cállida
Célio Cintra, da Cachaça Cállida

CÉLIO CINTRA

CRISTALINA

Em Cristalina, a aproximadamente 280 km de Goiânia, fica a Cachaça Cállida, fundada por Celio Cintra em 1994, que se tornou mestre alambiqueiro para produzir suas próprias cachaças: Cállida e Cristal de Goiás.

As cachaças são armazenadas em tanques de inox e vendidas na modalidade cristal e envelhecida em dornas e barris de carvalho, amburana, sassafrás e jequitibá, que emprestam aromas e sabores surpreendentes, com notas frutadas, de baunilha, caramelo, chocolate, entre outras.

As Cachaças Cállida e Cristal de Goiás são registradas no Mapa e receberam o selo Alimento Confiável. Em 2021 foram produzidos 20 mil litros e para 2022 a previsão é produzir 30 mil litros. A produção é vendida principalmente em Cristalina e em Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e pelos Correios aos demais Estados.


LUIZ MANTEIGA

CAMPO ALEGRE DE GOIÁS


Produtos da Cachaçaria Castelo Branco, de Campo Alegre de Goiás 12. CACHACAS GOIAS.
Produtos da Cachaçaria Castelo Branco, de Campo Alegre de Goiás 12. CACHACAS GOIAS.

O engenheiro agrônomo Luiz Manteiga Álvares de Campos Filho herdou da família, de origem mineira, a produção da Cachaça Castelo Branco. A marca surgiu em Campo Alegre de Goiás em 1948. A história começa com seu avô paterno Sebastião Ferreira Álvares da Silva, o Sessé, mineiro de Abaeté.

Depois seus tios Lázaro e Emídio Manteiga passaram a produzir a Castelo Branco. O atual registro é de 1968, quando seu pai deu continuidade à produção da família.

Além da Castelo Branco, o carro chefe da cachaçaria, Luiz Manteiga produz as cachaças Brazinha, Ipamerina e Último Desejo. Ao todo foram produzidos em 2021 12 mil garrafas e para 2022 a meta é dobrar a produção. As cachaças estão disponíveis nas opções cristal, armazenadas e envelhecidas.

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