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Vinho Magazine

Gin - Espírito Inglês

O Brasil embarca na onda do gin e produz versões deliciosas com aromáticos nacionais


Por: Maria Edicy Moreira



O mundo tem valorizado os produtos artesanais que se valem de matérias-primas locais, mesmo os de caráter internacional, como o gin. O gin consolidou- -se na Inglaterra no século 17, após a introdução da genebra, destilado holandês e belga também tratado originalmente como medicamento.No segmento das bebidas artesanais, caso do gin, a todo momento surgem novas marcas e investimentos. De acordo com o consultor José Osvaldo Albano do Amarante, existem no Brasil pelo menos 118 marcas de gins cadastradas em seu site www. amarante-vinhos.com.br (o siteaborda também o gin).


Os novos produtores de gin começaram a surgir no Brasil em 2016, no ano em que o boom de consumo da bebida explodiu no mundo todo, inclusive no Brasil. De acordo com Amarante, o interesse pelo gin veio a reboque da Espanha, que introduziu novas formas de tomar gin-tônica. Os espanhóis passaram a incluir no clássico drinque fatias ou pedaços de frutas, e até verduras e especiarias... A releitura espanhola modernizou a bebida.

Os novos produtores da bebida têm usado botânicos clássicos e outros, bem brasileiros e inovadores. “Primamos pelo uso de ingredientes locais, pelo respeito às tradições brasileiras em produzir bons destilados e pela qualidade que a produção artesanal possibilita”, afirma Felippe Januzzi, sócio da empresa, pioneira da nova geração de produtores de gin no país. Ele acredita que, devido ao movimento a favor do produto local e artesanal, hoje o bartender, o dono do bar e o consumidor procuram cada vez mais por esse tipo de produto. Para garantir a qualidade, os novos empreendedores estão caprichando também na construção de seus alambiques. Mesmo aqueles que produzem outros destilados, como cachaça, ou rum, reservaram um alambique específico para a produção de gin.


ALAMBIQUE ESPECÍFICO

“Nossa destilaria é uma das primeiras do Brasil e a única exclusiva para produção de gin, ou seja, além de não produzir nada além do nosso ‘queridinho’, toda a nossa estrutura, maquinário e processos foram pensados e desenvolvidos exclusivamente para a elaboração do gin”, afirma Arthur Flosi, sócio e mestre destilador da Beg Boutique Distillery.

Para Alexandre Bertin, proprietário da Sapucaia Distillery, o principal consumidor de gin artesanal nacional é aquele que entende um pouco mais as diferenças entre produtos industrializados e artesanais. “A produção artesanal do gin é feita com cuidado e envolve maior interação humana. O consumidor desse tipo de produto pesquisa mais sobre as suas características e as do produtorantes de comprar. Também tem uma preocupação maior com a origem e a forma de produção”, afirma Bertin. Segundo ele, a Sapucaia exporta para vários países da Europa.

Sobre a concorrência com os grandes players globais, Bertin diz que apesar dos desafios trabalha para competir em pé de igualdade no mercado. “Buscamos alternativas de distribuição e uma rede de clientes parceiros antigos que pensam como nós e queiram valorizar os produtos nacionais artesanais de qualidade. Nossa fé é a de que o consumidor brasileiro também entenda a importância de priorizar produtos artesanais locais bem feitos e que melhore seus hábitos de consumo, ajudando empresas sérias a se consolidarem”.



ALQUIMIA

O preparo do gin lembra a alquimia, com infinitas combinações entre os chamados botânicos: ervas, especiarias, sementes, frutos e folhas das mais variadas plantas. Produzi-lo, apesar de ser uma atividade séria, acaba por se tornar algo bem divertido uma vez que, respeitando a obrigatoriedade de inclusão do zimbro (Juniperus Communis, uma baga aromática da família das coníferas), que caracteriza o destilado como gin, não há limite na escolha dos botânicos.

Por isso, quase sempre quem empreende nesse segmento de mercado é um apaixonado pelos processos de criação e produção das receitas e pelo próprio gin. Essa flexibilidade conta muitos pontos a favor dos produtos locais artesanais.

O interessante dessa liberdade de escolha é que, além de usar o zimbro e outros botânicos clássicos como semente de coentro, canela, cardamomo, que estão na maioria das receitas do destilado, os “alquimistas” do gin podem aproveitar para usar aromáticos originários de sua região, explorando a grande riqueza da flora brasileira.

A destilaria Beg utiliza dois botânicos bem brasileiros: as folhas da pitangueira e de sabugueiro. Além disso, a receita de seus rótulos traz frutos, folhas, sementes ou raízes de plantas de origem estrangeiras, a maioria (exceto o cardamomo) com forte presença em nosso país, tais como como capim-santo (erva cidreira), angélica (raiz), canela, coentro (semente), limão taiti, laranja lima e mexerica, entre os quais cinco são colhidos frescos na fazenda São José, onde fica o alambique, em Campinas, SP.

A versatilidade do gin está não apenas na escolha livre de seus ingredientes aromáticos, mas também nas quantidades deles que serão utilizadas. Essas variações trazem infinitas possibilidades de criação de novos gins, com os mesmos ingredientes.

Na Virga, além do zimbro e sementes de coentro, a destilaria apostou em escolhas ousadas, como o pacová. As sementes de Pacová (Renealmia Alpinia), uma pouco conhecida planta da Mata Atlânticasão uma curiosidade. “Ao serem maceradas, as sementes do pacová vão liberando seus incríveis aromas e sabores, que lembram cardamomo, menta, baunilha, gengibre e com um final de boca amadeirado e refrescante”.

A cana de açúcar e o pacová utilizados na empresa são cultivados na fazenda Guadalupe, em Pirassununga, SP, onde a produção do destilado é feita.

Januzzi diz que o álcool de cana de açúcar, usado como base nos seus gins, leva vantagem em relação ao de cereais porque não é preciso quebrar o amido. A cachaça, produzida especialmente para ser usada como componente do gin, é também ingrediente de aroma: “nosso gin é o primeiro do mundo a levar pequenas doses cachaça pura de alambique, trazendo os aromas primários da cana de açúcar.”

A gaúcha Destilaria Weber Haus levou dois anos para lançar seus dois primeiros rótulos de gin orgânicos, que chegaram ao mercado em outubro de 2017. “Demoramos todo esse tempo para desenvolver nossos produtos porque não queríamos lançar apenas mais um gin, queríamos gins diferenciados”, afirma Mateus Weber, gerente de marketing. A experiência deu certo e, em maio de 2018, a destilaria lançou uma versão Pink do seu gin Weber Haus, com infusão de hibiscos.

Mateus enfatiza que a proposta da Weber Haus é trabalhar com gins orgânicos, produzidos em pequenos lotes, com uma receita especial para atender a um público exigente, que procura um produto de qualidade e se preocupa com as opções orgânicas. “Não temos a pretensão de concorrer com os grandes produtores globais”.


ERVA-MATE

A destilaria, conhecida também pela produção de cachaças de alta qualidade, licores e rum, entre outros, construiu em Ivoti, RS, local de sua sede, um alambique específico para a produção de gins. Na hora de criar suas receitas, além do zimbro, a Weber Haus optou por botânicos locais, como o gengibre nativo do lote 48 da família Weber, que confere um sabor picante. Como bons gaúchos, não poderiam deixar faltar nos gins WH uma das plantas mais emblemáticas do Rio Grande do Sul, a erva-mate, que deixa um leve amargo no destilado.

Outra inovação fica por conta das folhas de cana de açúcar frescas, colhidas ali mesmo, que conferem aroma fresco à bebida. O uso da madeira amburana também é uma peculiaridade.



As receitas de todos os gins que a Sapucaia produz para si ou para terceiros têm o zimbro e outros botânicos clássicos como coentro, cardamomo, angélica e alcaçuz. A partir daí as receitas podem variar de acordo com os rótulos, podendo levar alecrim, absinto, semente de amburana, pera etc.

Em suas marcas próprias, a empresa também utiliza o alecrim e o absinto, castanha de sapucaia e avelã, que dá um toque de caramelo ao aroma e sabor.

A Sapucaia começou como uma destilaria de cachaças artesanais em 1933, em Pindamonhangaba/SP.

Com tradição em cachaças, a Sapucaia produz seus gins e de terceiros em alambique construído especialmente para eles. “São alambiques com configurações diferentes”, afirma Bertin.



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