Brasil tem a primeira DO para espumantes do Novo Mundo
Por: Irineu Guarnier Filho
Demorou, mas saiu. Depois de dez anos de muito trabalho, a região dos Altos de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha, obteve do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a sua Denominação de Origem (DO) exclusiva para espumantes – a primeira do Novo Mundo. O processo começou em 2012, por iniciativa da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho), e contou com o suporte técnico-científico da Embrapa Uva e Vinho de Bento Gonçalves, Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sebrae Nacional, Sicredi Serrana e Poder Público Municipal de Pinto Bandeira. Uma soma de expertises em diferentes áreas da atividade vitivinícola. Quatro vinícolas estão dentro da nova DO: Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino.
Para poder exibir em suas garrafas o selo, as vinícolas devem se submeter a regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento. As castas autorizadas para composição dos blends são Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. Além de serem cultivadas na área geográfica delimitada, as vinhas também devem ser conduzidas pelo sistema de espaldeira. O que caracteriza este terroir único no mundo é a composição equilibrada entre acidez e açúcar, que confere aos espumantes cor, aroma, paladar e estrutura também exclusivos. Os primeiros espumantes com o selo da DO Altos de Pinto Bandeira devem chegar ao mercado a partir do ano que vem. Na última década, as vinícolas tiveram tempo para se adequar às exigentes regras da DO.
O presidente da Asprovinho, Daniel Geisse, comemorou a notícia, publicada no último dia 29 de novembro na Revista da Propriedade Industrial, do INPI. “Formalizar o que já estamos desenvolvendo há muitas safras é brindar a persistência de todos os envolvidos, unidos num único propósito. Agora podemos trabalhar na consolidação do posicionamento da marca no cenário nacional e no mundo do vinho.” Para Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, que coordenou a estruturação da DO Altos de Pinto Bandeira, “estaDenominação de Origem possui equivalência estrutural e apropria um alto nível qualitativo, como o existente nas prestigiosas DOs de espumantes de Champagne da França ou Franciacorta da Itália”.
A DO dos Altos de Pinto Bandeira tem uma área contínua de 65 km², sendo 76,6% localizados no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4,4% em Bento Gonçalves. A altitude média da região é de 632 metros, com relevo de ondulado a montanhoso. As temperaturas são mais amenas, enquanto a exposição solar é favorecida pela localização na margem esquerda do Vale do Rio das Antas e pela boa circulação horizontal do ar no alto de um dos patamares do Planalto Basáltico da Serra Gaúcha. Do enólogo chileno Mário Geisse, fundador da vinícola Cave Geisse, que faz vinhos em vários países, ouvi que, além de Champagne, na França, o terroir de Pinto Bandeira é um dos melhores lugares no mundo para a elaboração de espumantes. Entre outras razões porque nas frias encostas locais as uvas amadurecem completamente, conservando muito de sua acidez, combinação difícil de se obter, visto que quando o grau de açúcar aumenta, o de acidez cai. E é a acidez que aporta frescor e vivacidade aos espumantes.
A Don Giovanni, uma das contempladas, comemorou 40 anos quase simultaneamente ao anúncio da DO. Uma festa ao ar livre, entre os vinhedos, reuniu o mundo do vinho da Serra Gaúcha na noite seguinte. Conhecida também pelos rótulos de alta gama de vinhos tintos Cabernet Franc, a DG tem nos espumantes seu carro-chefe. A conquista da DO foi um merecido presente de aniversário às quatro décadas de dedicação do casal Ayrton Giovannini e Beatriz Dreher Giovannini, fundadores da Don Giovanni, aos seus espumantes.
Principais regras para o uso da D.O. Altos de Pinto Bandeira
1. Cultivares autorizadas: Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico, sendo que os vinhedos devem ser cultivados, exclusivamente, na área geográfica delimitada e estarem declarados no Cadastro Vitícola.
2. Origem das uvas: As uvas devem ser cultivadas 100% na área geográfica delimitada da DO Altos de Pinto Bandeira.
3. Sistemas de Condução: espaldeira.
4. Produtividade: limite máximo por hectare de 12 toneladas/hectare. A colheita mecânica é proibida para as uvas destinadas à DO, que também devem apresentar mais que 14º graus babo.
5. Elaboração: Os espumantes com DO somente podem ser elaborados pelo Método Tradicional com tempo superior a 12 meses de guarda. Quanto ao açúcar residual estão autorizadas as classes Nature, Extra-Brut, Brut, Sec e Demi-Sec.
6. Processos Enológicos:
• É permitido o uso de barricas de carvalho, tanto na primeira fermentação quanto no vinho base para espumante, sendo que para ter a DO é necessário ter a segunda fermentação na garrafa.
• Os vinhos-base para espumante devem ter no máximo cinco anos, contados a partir da data de término da respectiva safra de uva.
• É permitido o uso de diferentes safras de vinhos-base para espumante nos cortes, desde que das variedades autorizadas. Nos cortes, o vinho base de Riesling Itálico terá um percentual máximo de 25% sobre o volume do produto final.
• O vasilhame autorizado é, exclusivamente, o de garrafas de vidro nos volumes 375 ml, 750 ml, 1.500 ml e 3.000 ml.
• Padrões de Identidade e Qualidade Organoléptica do Produto: espumantes da DO devem ser aprovados em avaliação sensorial realizada pela Comissão de Degustação, gerida pelo Conselho Regulador da DO.
• Declaração de safra: os espumantes da DO Altos de Pinto Bandeira podem ser safrados, devendo conter, no mínimo, 85% de vinho-base da safra mencionada.
• Rotulagem: o rótulo principal deverá conter a identificação do nome geográfico da DO, seguido da expressão Denominação de Origem. A rotulagem também deverá incluir o Selo de Controle numerado, especificando o número do lote e da respectiva garrafa do lote.
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