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Vinho Magazine

British Spirit

O gin entra na moda e ganha espaço no mercado de bebidas

POR MARIA EDICY MOREIRA


O gin voltou à moda em todo o mundo. De origem britânica, esse destilado de delicado perfume tem conquistado novos adeptos, geralmente em coquetéis e drinks ou puro. Com teor alcoólico entre 37.5% e 50%, dependendo da marca (semelhante a outras aguardentes como vodka, whisky e cachaça), surgiu no século 18 nos Países Baixos,mas ganhou fama no Reino Unido. Alguns autores identificam suas raízes na Itália. Isso porque a descoberta do valor medicinal do zimbro, a alma do gin, foi realizada por monges na Itália Central. Entretanto, é fato documentado que o primeiro gin foi produzido por um médico em território holandês.

O destilado pertence à mesma classe da vodka. Ambos são bebidas destiladas e retificadas. Segundo José Osvaldo Albano do Amarante, professor, autor de livros e especialista em gin e vinhos, a principal característica que o diferencia é o fato de o gin ser submetido a um estágio adicional de redestilação do álcool-base na presença dos componentes “botânicos” (especiarias, ervas, raízes, flores e frutas). Esse processo resulta em uma bebida muito mais aromática e complexa que a vodka.

O gin é destilado à base de cereais. Posteriormente, passa por uma infusão com zimbro (baga de uma árvore conífera) e outras especiarias. Além do zimbro, surgem a canela, cascas de frutas cítricas, sementes de coentro, angélica, pimenta da Jamaica, raiz de alcaçuz, pimenta do reino, cássia, farinha de amêndoas etc. Com exceção do zimbro, de presença obrigatória, cada fabricante escolhe os ingredientes para a composição de seu produto, criando uma combinação única e aromática.

O zimbro é a alma do gin por dois motivos: o mais importante deles, segundo Amarante, é que, tanto na legislação europeia, quanto na brasileira, há uma cláusula exigindo a presença do zimbro. No caso do Brasil a lei reza: “gin é uma bebida... obtida pela redestilação de álcool etílico potável de origem agrícola, na presença de bagas de zimbro...”. Outro fator é a capacidade dessa baga de emprestar ao gin sua aromaticidade ímpar.



Amarante ensina que o uso dos ingredientes ditos botânicos na composição de um gin pode variar de alguns poucos elementos (5 no brasileiro Vitória Régia), até 47, como é o caso do alemão Monkey 47. Entretanto, a escolha dos botânicos deve favorecer a harmonia final da bebida. Todos devem estar integrados no equilíbrio final, sem que algum se destaque.

A destilaria gaúcha Weber Haus, a mais premiada do Brasil, produz gins orgânicos de elevada qualidade, com uma mistura inusitada de botânicos, a maior parte deles oriunda mesmo do Sul do país, tais como erva mate, folhas frescas de cana de açúcar e gengibre de

produção própria. Segundo o diretor Evandro Weber, seu diferencial maior está nessa mistura de botânicos, exclusiva e inimitável. Os gins da H. Weber vêm em duas versões: London Dry WH 48 (Lote Especial Amburana) e Dry Gin WH 48 Orgânico.

Thiago Luz, sócio da Destilaria Beg Gin Co., também procura o equilíbrio de uma receita de gin. “No nosso caso, optamos por um álcool neutro de cereais. Depois vamos à escolha dos ingredientes que farão parte do blend, inclusive o zimbro e dos outros botânicos, que em nosso caso são mais de dez. O equilíbrio da receita é o mais complicado, pois a má escolha dos ‘botânicos’ pode fazer com que o gin não se adapte à produção de alguns dos coquetéis”.

ÁGUA TÔNICA

A bebida mais associada ao gin em todo o mundo é a água tônica de quinino. A diversidade de drinks criados com ela ganhou até uma sigla G&T (Gin & Tônica ou simplesmente).

Tal mistura surgiu pela necessidade de os soldados ingleses consumirem quinino para evitar a malária. Como o tônico com quinino era muito amargo, os soldados adicionavam gin para torná-lo mais palatável. O drink ganhou infinitas variações ao redor do mundo. O gim-tônica é especialmente famoso no Reino Unido e a receita mais consumida contém uma mistura de gin, água tônica e limão.


O RESGATE DA FAMA

Depois de quase três séculos de história, o gin ganhou fama e hoje é um dos destilados alcoólicos mais usados em coquetelaria. Porém, já enfrentou altos e baixos. Sua fama de bebida “muito forte” deve-se a um episódio histórico ocorrido no século 18, na Inglaterra, quando era produzido em destilarias de fundo de quintal, sem supervisão sanitária. Nessa época, o gin foi combatido com campanhas semelhantes às feitas hoje para o combate de drogas ilegais.

Mas isso é passado. Segundo estatísticas de importação do Siscomex –Sistema Integrado de Comércio Exterior da Receita Federal–, o Brasil registrou entre 2014 e 2016 um crescimento de 456% na importação de gin.

Um levantamento feito pela empresa de auditoria Product Audit International revela que em 2015 foram importadas 22.346 caixas de gin, mais que o dobro do ano anterior. A perspectiva para 2018 é de 30 mil. Só em 2017 mais de 15 marcas de gin surgiram no mercado. Já estão no país até produtos de alto valor como o alemão Monkey 47 e o britânico Plymouth.

Especialistas como Amarante estimam vida longa para a nova fase da bebida. “A predominância do gin em relação às outras bebidas alcoólicas na elaboração de coquetéis deve permanecer por pelo menos mais dez anos”. A diretora de marketing da Distillerie Stock, Laura Schenardi Paula, também aposta na ascensão do gin e na continuidade do atual revival do consumo da bebida por mais uns bons anos.


Matheus e Martin Braunholz, sócio da Microdestilaria Hof, são mais realistas quanto ao atual revival do gin. “Daqui a dez anos, os apaixonados por gin continuarão tomando seus martinis e gin-tônicas, mas o mercado certamente terá se rendido a outras bebidas como sempre ocorreu. O gin ainda será o protagonista por mais alguns anos, mas cederá espaço, neste nosso mundo sempre em busca por novidades”, afirma Braunholz.

O público consumidor de gin no Brasil, segundo Amarante, é formado principalmente por pessoas que estão descobrindo o gin, com curiosidade e espírito aberto. Britânicos, norte-americanos e espanhóis têm mais tradição no consumo dessa bebida.

MARCAS NO BRASIL

No Brasil, há diversas marcas importadas por grandes empresas multinacionais, como Pernod Ricard (Monkey 47 e Plymouth), Diageo (Tanqueray), Bacardi (Bombay Sapphire), entre outras. A italiana Stock produz o Seagers no Brasil há mais de 80 anos.

Aproveitando o revival da bebida, a Stock decidiu lançar no país mais um aversão Super Premium Silver Seagers, mais cara. A empresa está prospectando mercados para exportar os gins produzidos no Brasil.

Nos últimos anos surgiram pequenos produtores brasileiros de gin, principalmente no Estado de São Paulo. Entre esses estão Destilaria Beg Gin Co., Draco Gin e Microdestilaria Hof.

PERNOD RICARD

A Pernod Ricard tem o maior portfólio de marcas, com Beefeater, Beefeater 24, Seagrams, Monkey 47 e Plymouth.

O Monkey 47 é um gin alemão produzido na Floresta Negra. Feito a partir da combinação de 47 botânicos raros. É a quantidade de ingredientes que dá nome à bebida, juntamente aos 47% de teor alcoólico. Custa cerca de R$ 400 a garrafa de meio litro.

O Plymouth é britânico e tem 41,2% de teor alcoólico. Entre seus ingredientes estão casca de laranja doce, raiz de angélica, raiz de lírio florentino e cardamomo. É o único gin do Reino Unido a ter indicação geográfica protegida: só pode ser produzido em Plymouth, cidade que lhe dá o nome. Sai por R$ 220 a garrafa de 750 ml.

O Beefeater tem 40% de álcool e nove botânicos: juníper (zimbro), raiz de angélica, sementes de angélica e de coentro, alcaçuz, amêndoas, raiz de orris, laranja de Sevilha e casca de limão. O Seagram’s, líder nos EUA, custa R$ 89 a garrafa de 750 ml.


DIAGEO

A Diageo distribui o Tanqueray, um dos mais famosos London Dry Gins, criado em 1830 por Charles Tanqueray, aos 20 anos. Sua produção teve início em uma pequena destilaria em Bloomsbury, distrito próximo à Londres. Após sofrer danos durante a 2ª Guerra Mundial, a empresa mudou para a Escócia, onde mantém a receita original e um de seus alambiques de cobre tradicional, o Old Tom, usado até hoje. O processo de produção inclui quatro destilações e envelhecimento de 18 meses em barris.

BACARDI

A Bacardi traz o gin Bombay Sapphire. Baseado em uma receita secreta de 1761, é o resultado de uma combinação de dez espécies botânicas exóticas, de diversas partes do mundo.

DRACO GIN

O empresário Rodrigo Marcusso, criador do Draco, ao estilo London Dry, decidiu investir em gin porque sempre foi consumidor da bebida”.

Marcusso produz mensalmente 6 mil garrafas de 750 ml do Draco. A marca traz, segundo Marcusso, uma mistura de botânicos importados (zimbro, alcaçuz, angélica, coentro, lírio fiorentino e sálvia), além de três cítricos brasileiros. Elaborado com álcool 100% de grãos, em alambique de cobre em Pirassununga, SP, o gin tem leveza e personalidade.

Marcusso explica que um dos seus diferenciais é o processo de fixação de aromas, semelhante ao da fabricação de perfumes, no qual o produto já engarrafado fica sete dias resfriado a 6 graus.

MINNA MARIE

Com sede em Serra Negra, SP, a Microdestilaria Hof, produtora do Minna Marie London Dry Gin, é comandada por Martin Braunholz e seu filho Matheus Braunholz. “Vínhamos observando o crescimento da mixologia e de determinadas bebidas nos Estados Unidos e na Europa, em especial o crescimento da utilização do gin em drinks e coquetéis”, revela Braunholz.

O resultado é o Minna Marie London Dry Gin, lançado em meados de 2017, após dois anos de pesquisas e desenvolvimento. O gin combina o zimbro com álcool potável de origem agrícola e mais 14 botânicos nacionais e importados. Tem notas de zimbro, cítricos, herbais, aromáticas. O Minna

Marie é o carro-chefe da Hof. A Hof produz aproximadamente mil litros mensais de bebidas. O Minna Marie sai por cerca de R$ 100.


BEG DESTILARIA CO.

Na Beg tudo começou com três amigos de infância que costumavam se encontrar aos finais de semana para testar botânicos e métodos de destilação em um pequeno alambique de cobre adquirido em 2012. Com o tempo, a bebida que produziam para consumo próprio, foi fazendo sucesso entre os amigos e, em 2015, resolveram transformar a paixão em negócio e fundaram uma pequena destilaria artesanal.

Eles produzem o Beg Gin tradicional e o New World, o primeiro gin estilo Navy lançado no país. O Beg Gin é mais utilizado na preparação dos clássicos gins-tônica, enquanto o Navy é recomendado para coquetéis como Dry Martini e Negroni, devido à graduação alcoólica mais elevada.

Ao todo, saem da Beg aproximadamente 17.500 garrafas de gin por ano. Os produtos são vendidos em empórios, bares e restaurantes. O Beg tem preço médio de R$ 110.



ESTILOS DE GIN

Há diversos estilos de gin, divididos em cinco grandes grupos, classificados pela família aromática dos ingredientes utilizados em suas notas botânicas, além do Gin tinto, criado em Portugal, caso a parte. Veja os principais tipos de gins: London Dry Gin: é o tipo mais conhecido. No processo de destilação, recebe infusão de botânicos aromáticos como zimbro, canela, cascas de frutas cítricas, sementes de coentro, pimenta da Jamaica, raiz de alcaçuz, pimenta do reino, entre outros.

Old Tom Gin: ancestral do London Dry, o Old Tom tem adição de açúcar na composição final. Seu sabor faz lembrar a Genebra.

Plymouth Gin: produzido na cidade de Plymouth, no Sul da Inglaterra. É conhecido por ter um sabor marcante entre o amadeirado e o terroso, com menor predominância do zimbro. Originalmente era produzido por monges dominicanos, conhecidos na Inglaterra como black friars (frades negros) por seus hábitos escuros.

Sloe Gin: bastante doce, semelhante a um licor, tem cor avermelhada que lhe é conferida pela infusão de ameixas e outras frutas vermelhas, o que é feito depois da destilação.

Genebra: produzido nos Países Baixos, é um gin incolor, mas por vezes apresenta cor de palha, devido ao caramelo adicionado em sua composição. É destilado quatro vezes seguidas pelo processo de destilação pot still.

Steinhager: a versão alemã da Genebra. O nome origina-se da cidade alemã de Steinhagen.

Gin tinto: criado em Valença, Portugal. Tem 14 botânicos, diferentes daqueles usados normalmente nos outros gins como aneto, loureiro, nevêda, folha de salgueiro, flor de sabugueiro, erva de São Roberto, erva cidreira, lúcia lima, folha de eucalipto, alecrim, alfazema e o cítrico da casca da laranja verde, papoulas e amoras silvestres e perico, um fruto típico de Valença.

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