top of page
Vinho Magazine

As quatro estações

POR: IRINEU GUARNIER FILHO


Empreendedoras femininas lançam linha de produtos caprichada, e propõem um tour pelos sabores do Brasil vitivinícola


Juciane Casagrande e Andreia Gentilini Milan, exibem seus produtos, em vinhedo da Serra Gaúcha.

Conheci a enóloga Juciane Casagrande e a sommelière Andreia Gentilini Milan há mais de dez anos, quando passei a me dedicar à crônica do vinho. As duas profissionais gaúchas trabalhavam nas áreas comercial e de marketing da indústria vinícola. Juciane, na Casa Valduga, e Andrea, no antigo Ibravin.

O mundo deu voltas, safras boas e outras nem tanto se sucederam, e num dia qualquer de 2019 recebo um convite para o lançamento do primeiro espumante da dupla – apropriadamente chamado de Amitié (amizade, em francês).Foi uma surpresa para mim: as duas executivas não tinham vinhedos, tampouco vinícola, eram especialistas no comércio da bebida e estavam lançando um vinho? O lançamento, no porãozinho da casa de família de uma delas, em Bento Gonçalves, foi um evento pequeno, simpático, para poucos convidados – mas naquela noite fria estava sendo lançada a pedra fundamental de um projeto arrojado que em pouco tempo haveria de surpreender o mercado brasileiro.

De lá para cá, a Amitié cresceu, a gama de produtos joviais e descomplicados da marca se diversificou, conquistou espaços importantes em lojas e restaurantes sofisticados do país, ganhou prêmios no exterior, e até setembro do ano que vem as duas sócias pretendem inaugurar uma moderna vinícola de 2 mil m2 quadrados no Vale dos Vinhedos, a única região vitivinícola brasileira com Denominação de Origem (DO), no coração da Serra Gaúcha. Um indiscutível case de sucesso, ainda mais porque conduzido por duas mulheres num meio predominantemente masculino.


Linha Colheitas, de vinhos de todas as regiões produtoras do país

UMA VIAGEM PELO BRASIL VINÍCOLA

Ok, o marketing da Amitié é excelente: os rótulos são lindos, parte da rolha de um espumante vira um pingente; outras garrafas trazem marcadores coloridos de taças (úteis nesses tempos de pandemia); mas, e os vinhos, são bons? A resposta é: sim! Todos os cinco rótulos da linha Colheitas, que provei, têm muita personalidade, álcool na medida certa, aromas e sabores delicados, cores vivas e – graças à sensibilidade das moças – pouca madeira (passagens de seis meses, no máximo, por barricas de carvalho de segundo uso), que promove a adequada microxigenação sem obrigar o pobre enófilo a mastigar serragem.

A grande sacada da Amitié, aliás, foi a linha Colheitas, lançada há pouco em Porto Alegre: uma caixa de cinco vinhos, elaborados com uvas colhidas em diferentes terroirs brasileiros, nas quatro estações do ano. Nenhum outro país, além do Brasil, consegue produzir vinhos ao longo de todo o ano, em diferentes paralelos.

“Estamos constantemente pesquisando e estudando a geografia do vinho no Brasil e, a partir do privilégio do território brasileiro, surgiu a ideia de reunir, em uma linha de vinhos, exemplares de cada uma dessas condições particulares de clima e viticultura”, explica Juciane Casagrande.



As empresárias, tendo ao centro o autor, Irineu Guarnier Fº

QUATRO ESTAÇÕES

“A essência da linha Colheitas vai além do foco no terroir, e traz para o primeiro plano condições diferenciadas que só o Brasil possui, como a possibilidade de produzir vinhos nas quatro estações, com três diferentes métodos”, resume Andreia Gentilini Milan.

Do verão gaúcho vem o sedoso Cabernet Franc, elaborado com uvas de Pinto Bandeira, na Serra, e o Tannat, com uvas de Santana do Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai, região da Campanha. Videira, no Planalto Catarinense, forneceu as uvas Merlot, Cabernet Sauvignon e Montepulciano colhidas no outono para a composição de um blend elegante, estilo Velho Mundo. A viticultura de inverno, praticada no Sul de Minas Gerais e na Serra da Mantiqueira, graças às altas temperaturas e às poucas chuvas do período, possibilitou a elaboração de um potente Shiraz, com uvas cultivadas em Andradas (MG). Por fim, o Tempranillo Rosé da primavera vem de Lagoa Grande (PE), na maior área vinícola tropical do mundo: o Vale do São Francisco. Para um vinho de clima quente, surpreende a refrescante acidez.

Agora, o melhor de tudo: esse delicioso passeio sensorial pelos climas e terroirs brasileiros custa menos de R$ 500. O kit Amitié Colheitas, com os cinco vinhos e informações adicionais sobre os três tipos de viticultura (Tradicional, Tropical e de Inverno) e a elaboração dos rótulos nas quatro estações do ano sai por R$ 495.

Sem sair de casa, podemos viajar pela novíssima vitivinicultura brasileira a bordo de nossas taças. Uma experiência única, que só o vinho brasileiro pode proporcionar.

Comments


bottom of page