Afinal, qual a taça ideal para os espumantes, capaz de enaltecer a bebida mais festiva?
POR IRINEU GUARNIER FILHO
Há algum tempo, a revista Wine Spectator, a bíblia norte-americana do vinho, trouxe uma reportagem de capa intitulada “A Alma da Champagne”. Um detalhe chamava a atenção na foto: um champagne classudo era servido em taça de vinho tranquilo… Pode isso? Qual a vantagem de beber espumante em taça de vinho branco?
Difícil dizer, mas parece que a prática veio para ficar. Participei, tempos atrás, de uma degustação de cinco safras especiais de Dom Pérignon, em que o precioso néctar nos foi servido em taças bojudas, parecidas com as de vinho branco. Parecidas. Na verdade, as taças com design diferenciado foram desenvolvidas com exclusividade para a Dom Pérignon. Perguntado sobre se a inevitável evaporação mais acelerada do gás não comprometeria a fruição de uma bebida tão especial, o sommelier encarregado do serviço foi categórico: “Se isso acontecer”, pontificou, “ainda restará na taça um magnífico vinho branco!”
Modismos à parte, o fato é que as taças de espumante têm mudado bastante através dos anos, para que possamos desfrutar melhor os aromas e sabores desta maravilhosa bebida. Até os anos 1970, a moda era a taça de boca ampla. Que, dizem, teria sido originalmente moldada nos seios da rainha Maria Antonieta. Da década de 1980 para cá, popularizou-se o uso da taça flûte, ou flauta, alta e muito estreita (um problema para pessoas com nariz avantajado). O espumante brasileiro chega ao requinte de ter uma taça muito elegante desenhada especialmente para ele –uma flûte um pouco mais curta, com a boca levemente menor do que a circunferência do bojo.
Mas, afinal, por que os apreciadores de espumantes têm preferido beber em taças bojudas? Experts sustentam que o gás carbônico do espumante precisa de uma “câmara” maior para se expandir, antes de chegar ao nariz. Na taça flûte, o gás –sem espaço para expansão– subiria mais rapidamente e se volatizaria antes que pudéssemos apreciar todos os aromas da bebida. É o que alguns chamam de “Efeito Chaminé”: a falta de espaço comprime o gás e faz aumentar a sua velocidade vertical em direção à boca da taça (como ocorre com a fumaça de lareiras e churrasqueiras).
Experimente degustar um bom espumante nos três tipos de taça e tire suas próprias conclusões. Eu aderi à taça bojuda para champagnes e espumantes mais evoluídos. Para os charmats mais descontraídos do dia a dia, no entanto, a taça flûte continua insuperável.
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